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APERTO DO PARAFUSO, O
978-989-8566-10-2
Para entretenimento do perÃodo de Natal, o Colliers’Weekly de Nova Iorque propunha a Henry James (1843-1916) que escrevesse «um produto da época», o que desde logo lhe fez pensar no mais interessante projecto de narrativa lúgubre que tinha alguma vez registado e podia apertar até à dimensão de dez episódios a serem publicados pela revista, entre Janeiro e Abril de 1898 (a edição em livro surgiria alguns meses mais tarde). Nos seus cadernos de apontamentos afirma que a história — um «esboço simples, vago e sem pormenores» — lhe foi contada dois anos antes pelo arcebispo de Cantuária, «entre duas chávenas de chá», por sua vez ouvida da boca de uma mulher mantida sob anonimato, e que esta mulher tê-la-ia escutado de um desconhecido.
Mais tarde, estudiosos da obra literária de James vieram a dar esta génese como falsa e apenas destinada «a baralhar as pistas»; porque seria impossÃvel coincidência uma história anónima, chamada «Tentation» e cinquenta anos antes publicada no Frank Leslie’s New York Journal, ter posto em cena crianças violentadas psicologicamente por criados, e uma dessas crianças chamar-se Miles (como a personagem de James), sujeita à s maldades de Peter Quin (que na novela de James surge numa posição idêntica e com o nome de Peter Quint); passada numa mansão de Harley Street, a mesma rua onde a preceptora de O Aperto do Parafuso é recebida pelo seu empregador; acrescentando-se a tudo isto Sigmund Freud descrever, em Studien über Hysteria, o caso de uma miss Lucy R., preceptora inglesa de duas crianças nos arredores de Viena, vÃtima de alucinações idênticas à s da preceptora imaginada por James, consequência de uma paixão reprimida pelo seu empregador. Para um grande número de jamesianos são estas as verdadeiras fontes de O Aperto do Parafuso; mas frequentes as tentativas de encontrar outros antepassados a esta novela de James, e destroçar-lhe as ambiguidades; decidir se na história há fantasmas ou apenas uma alucinação da preceptora, uma vez que só ela os vê. A este jogo Pietro Citati chama, no seu livro IlMale Assoluto, «um desporto nacional inglês». A.F.