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ARQUIPELAGO DA INSONIA, O
978-972-20-3694-8
Começamos por uma casa, pelo sentimento uma força em exercÃcio, um poder que vem de há muito tempo, quando essa casa era igual mas era uma herdade, um latifúndio, quando nada faltava - a famÃlia, as empregadas na cozinha, o feitor, os campos, a vila ao fundo, e a voz do avô a comandar o mundo.
Agora há fotografias no Alentejo em vez de pessoas, e há objectos, cientes que também acabarão sem ninguém, há memórias de quem dorme, ou morreu, mortos que não sabem se a vida foi vida, há os irmãos, um é autista, e a imagem da mãe muito nÃtida, sempre de costas «(alguma vez a vi sem ser de costas para mim?)«.
Nessa altura já não se sabia a que cheira o vento, como não se sabe para onde foi a Maria Adelaide, morta também, foi para Lisboa?
A herdade foi tirada ao autista, e a doença (de quem?) é um arquipélago branco nas radiografias dos outros, um arquipélago normal, inocente. Estão todos mortos ou estão todos a sonhar e trocaram de sonhos, como se pudessemos trocar de sonhos.
De qualquer forma, sabemos que daqui a nada será manhã - mas aquilo que se disse ainda se ouve lá dentro:
«(- Não precisa de se casar comigo menino o seu pai nunca casou comigo)«.
E então vamos sabendo que não será manhã nunca.