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Uma obra que junta uma grande qualidade narrativa e um enredo brilhante.
No dia em que foi mãe, 1 de Março de 1990, Ãgata jura dar a vida pela filha, Indira. Tem 18 anos. Quatro anos antes, no Verão, voluntariou-se para um infantário, no estrangeiro. Irma, a irmã, recomendou-a a uma senhora do bairro, Alcina, que dirigia uma organização não-governamental num paÃs longÃnquo. Foi encontrar o filho da benfeitora, que nascera em 1984: Clemente tinha dois anos. Durante uma semana, não o arrancou do mutismo. Dividida entre dezenas de meninos, que a guerra fechara nos arrabaldes da capital, não houve tempo, quando invadiram o recreio. Não viu quem o raptava; encontrou-se sob um mascarado, que a violou.
Menigno, o bruto, forçou-a repetidamente; nos intervalos, alimentavam-na bem, perguntando-lhe, em lÃngua retorcida, se sabia o paradeiro de Alcina, a mãe do menino. Ela acariciava uma medalha pobre no seio. Engravidou, mas não viu a filha que nascia: Indira.
Clemente, agora um carrasco de 26 anos, tem por tarefa executar a mãe, Alcina. Recorre a Filodemo, um frade cujo passado de jornalista ilumina existência crua e vingativa de Menigno, ex-marido e director da prisão.
Num universo turvo, desequilibrado, com sujeitos em perda de identidade, o sexto romance de Ernesto Rodrigues magnifica «uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa forçar a ser maus».
Este é um livro que conduz o leitor por uma intrincada teia de encontros e desencontros, sendo atravessado por uma escrita cuidada, que garante prazer de leitura. Pouco deve ser tido como garantido na narrativa, pois ali se semeia surpresa, se tece intriga, se avança com a certeza de que as personagens vão crescendo ao longo das páginas, ganhando espessura e interesse.