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A Cabeça de Séneca descreve aquilo que à partida parece ser um complicado triângulo amoroso: Pedro, Paulo e LÃdia, três jovens indecisos, surpreendidos em momento de metamorfose. Perdem-se num labirinto antigo, feito de verdades mal entendidas, de premonições e falsos chamamentos, mistérios que evocam Séneca, o moralista de biografia ambÃgua, e Horácio, poeta dos amores nostálgicos. Encontram-se e desencontram-se em sucessivos cruzamentos, na noite lisboeta, no Outono deserto do Meco, em Sintra, nas ruas velhas de Évora. As experiências e o tempo misturam-se na procura de uma solução para anseios diferentes: resolver uma questão cientÃfica, escrever o primeiro romance, inventar uma narrativa nova para o passado de Séneca. Da colisão entre o movimento da vida moderna e os ecos ainda nÃtidos da Antiguidade, surge uma história sobre o trabalho secreto dos afectos e a natureza do passado. Entre viagens, incursões nocturnas, casamentos e funerais, em deambulações quotidianas e no espaço fabuloso da memória acabará por deslindar-se o mistério deste triângulo, de uma forma inesperada. Nos afectos, como na História, nada é o que parece.
«A felicidade. Bom, não era a felicidade o primo movens? Que raio, não era isso que procuravam as pessoas, não era esse o fito da civilização ocidental, resolvidas que tinham sido preocupações mais comezinhas (alimentação, sexo, sobrevivência)? E então porque é que LÃdia não tinha pensado nisso? Não seria uma espécie de deformidade mental, aleijão invisÃvel, essa ignorância, a incapacidade para ver esse monólito comum, quase banal, no horizonte, a imagem flutuante e pesada da felicidade, que agora surgia, inesperadamente, com uma ferocidade que parecia prestes a destruir a cidade?»