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CAFE, O
978-989-625-270-0
Tradução de Isabel Lopes e Fernando Mora Ramos.
«"O Café" é de uma modernidade surpreendente, modernidade que se traduz também na possÃvel projecção dos espectadores nas figuras construÃdas, projecção familiar, movimento que nasce de um parentesco sentido com estas personagens de meados de setecentos...»
Fernando Mora Ramos
“Peça em 3 Actos, com a trama a desenrolar-se num Café de uma rua de Veneza, junto a um Casino, a uma Barbearia e a uma Hospedaria, este é um teatro de exteriores também na construção das personagens, como refere Fernando Mora Ramos no magnÃfico Posfácio titulado «O Café sem Bodega»: «O Café é meio fora, posto de observação de toda a vida que ali se cruza, e tudo o que é interior se adivinha numa tensão que explora esse desejo de saber o que se passa na invisibilidade».
Com efeito, todos parecem saber tudo uns dos outros e querem saber ainda mais, e todos, de alguma forma, se comprometem com as outras existências, tomando partido, colocando pontos de vista, confrontando posições. Os dois «desajustados» da trama principal são Eugénio e D. Marcio. Eugénio é um jovem burgês, improdutivo, boémio, endividado pelo jogo e dependente daquele vÃcio e do de mulheres : «dinheiro na mão significa jogo, burra de saias, assédio de amor charmoso»; é recém casado com Vitória, o seu contraponto nas virtudes e que faz tudo para o salvar; D. Márcio é o viciado na soberba da sua condição de aristocrata, «mentiroso compulsivo», «predador», o «que se alimenta rapinando a vida de terceiros». Como refere Fernando Mora Ramos, são estas duas personagens que «dão espessura psÃquica a um teatro de caracteres que tudo e todos torna vizinhos», as outras personagens e o espectador que facilmente reconhece no seu quotidiano, apesar do texto ter mais de duzentos anos.
Neste Café desfila, imparável, uma «fenomenologia humana desabrida, como se de repente esta praça/café fosse também uma ágora, um parlamento, um lugar de polémica público», refere Fernando Mora Ramos, acrescentando mais uma nota sobre a avassaladora actualidade do texto: «É também um teatro que funda a democracia e continua a fazê-lo, agora que é claro que ela foge por caminhos que não são apenas os do regresso da velha senhora, mas outros, os da chegada de um totalitarismo insinuante de expressão mediática.».â€
TERESA SÃ COUTO (http://comlivros-teresa.blogspot.com/ )