CAMINHOS DESENCANTADOS

José Mena Abrantes escreveu as trinta e três estórias que constituem Caminhos Des-Encantados entre 15 de Agosto e 15 de Outubro de 1994, em Luanda. Neste curtíssimo espaço de tempo surgiu um texto que se nos afigura escrito de um fôlego e que se lê da mesma maneira. O ritmo de descrição dos acontecimentos, a vivacidade, o colorido e o realismo das palavras envolvem-nos da primeira à última página. Mas sobretudo as personagens causam uma profunda emoção. Movendo-se num clima de guerra, de violência, de crueldade e de uma desumanidade imensa, vivendo situações em que a realidade se sobrepõe à ficção, transmitem-nos a sensação de que para elas só sobrou o sofrimento. Como se não se apercebessem da sua verdadeira dimensão, e recusassem inconscientemente encontrar dentro de si próprias a dignidade, a coragem e a beleza que encerram. Como se passassem pela vida, nos seus aspectos mais crus, na aceitação de uma dor e de um tormento permanentes. E no entanto, que grandeza existe dentro delas. Que galeria notável de caracteres o autor construiu. Que livro arrepiantemente belo José Mena Abrantes nos oferece.