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CONSUL, O
972-20-0920-6
No jardim do consulado ressoavam passos vidrosos; seriam talvez os ecos das cardas alemãs pisando as pedras da França, marchando pelo cais de Bordéus. Não, não eram ainda as botas dos soldados, mas a correria dos garotos sobre o saibro a estilhaçar-se nos ouvidos do Cônsul. O choro e o riso destas crianças das mais variadas nações, que à volta da casa esperavam, faziam-se pancadas de aldraba repetindo nos seus sentidos todos prolongados gritos de socorro. Releu as instruções enviadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Não encontrava ponto ou vÃÂrgula que encaminhassem o sentido de modo a permitir-lhe conceder vistos, pelo menos aos que maiores perigos corriam com os nazis. Como fazê-lo sem arriscar a carreira? Como poderá alguém preso ao mundo das coisas por uma dúzia de bocas que pedem pão, e também pelas cadeias concretÃÂssimas da fartura, do conforto e do êxito, desprender-se delas à força da ideia abstracta do fazer bem sem olhar a quem?