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EMPATIA E ALTERIDADE A FIGURACAO CINEMATOGRAFICA COMO JOGO
978-989-8566-40-9
A incompreensão que, de uma forma ou de outra, acompanhou a exibição pública dos filmes analisados — A Pantera, Europa 1951, Lilith e o Seu Destino, A Marquesa de O, Fala com Ela — irmana-os na colecção de filmes inaceitáveis. A estranheza que os junta, ora pelo que os mesmos tratam, ora pelo modo como as personagens se comportam, ora pelo ponto de vista adoptado pelo realizador, não deixa de ser uma inquietante estranheza. De forma particular, a alteridade que os protagonistas transportam como um corpo estranho no seu seio submete-os a uma dura provação. Que é também uma prova para o espectador participante ao dar-se por tarefa tornar amáveis essas personagens estranhas — única forma de poder compreendê-las — através do método empático.
«“Viver criativamente é sinal de um estado saudávelâ€, que se desenvolve através da manutenção do “contacto com o mundo subjectivo†e do “estabelecimento de relações com a realidade externaâ€, mas que na origem se apresenta como um paradoxo. No dizer de Donald Winnicott, exprime a distância entre “conceber subjectivamente†e “perceber objectivamenteâ€, dando inÃcio a um jogo cuja regra fundamental assenta no facto de que “o bebé cria um objecto, mas o objecto não poderia ser criado se não tivesse já estado láâ€. O meu ponto de partida é que os filmes são como os “objectos subjectivos†que nos permitem a loucura de lidar com o mundo que perdemos (porventura, algo equivalente ao “choque imenso que representa a perda da omnipotência†para a criança), pois, através do jogo empático a que chamo figuração cinematográfica, aquilo que os filmes nos trazem, talvez, seja “Uma imprecisa / Coisa felizâ€, para o dizer com dois versos de um poema de Fernando Pessoa, a que voltarei.»