JULIO POMAR

Tenho o tampo da secretária revestido por álbuns em que se guardam muitas dessas imagens a que nos habituou o convívio com Júlio Pomar. Procuro uma linha de aproximação ao pintor, tarefa ingrata entre as inúmeras solicitações que fazem do diálogo do homem com um artista da sua preferência uma vida só, a dos frutos da Terra que mais desejamos colher. Se eu devesse convocar um terceiro com quem me autorizasse a partilhar essa identidade, escolheria sem hesitação Charles Darwin, iluminado pela estruturante passagem que ponho aqui traduzida. «Para quem, como eu, acredita que, num futuro distante, o homem será uma criatura bem mais perfeita do que é hoje, torna-se intolerável o pensamento de que, conjuntamente com outros seres vivos, esteja ele condenado ao completo aniquilamento, ao longo de uma comprida, continuada e lenta progressão».