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KASSEL NAO CONVIDA A LOGICA
978-989-8580-21-4
(...) gostaria de saber se já ouviu falar da Documenta de Kassel. Tinha ouvido falar, e muito, disse eu. E mais, alguns amigos, nos anos setenta, tinham regressado de lá transformados, depois de terem visto obras de vanguarda prodigiosas. De facto, Kassel era, por esse e outros motivos, todo um mito dos meus anos de juventude, um mito não destruÃdo; era o mito da minha geração, e também, se não me equivocava, das gerações que se seguiram à minha, pois todos os cinco anos se concentravam ali obras de ruptura. Por trás do mito de Kassel, acabei por lhe dizer, estava o mito das vanguardas.
Pois ela tinha o encargo, (...) de me convidar a participar na Documenta 13. (...) não me tinha propriamente mentido quando me falara de uma proposta irresistÃvel.
Sentia-me feliz por aquela proposta, mas contive o entusiasmo. Esperei uns segundos para perguntar o que se esperava de um escritor como eu numa exposição de arte como aquela. Que se soubesse, acrescentei, os escritores não iam a Kassel. E os pássaros não vão morrer ao Peru, disse Boston, demonstrando ser muito ágil a responder. Uma boa frase mcguffin, pensei eu. Seguiu-se um breve, intenso silêncio, que ela quebrou. Tinham-na encarregado de me pedir que em finais do Verão de 2012, ao longo de três semanas, passasse todas as manhãs no restaurante chinês Dschingis Khan, nas aforas de Kassel.
Chings quê?
Dschingis Khan.
Num chinês?
Sim. A escrever à vista do público.