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MULHER QUE FUGIU A CAVALO, A
978-989-8566-24-9
«A história da mulher que fugiu a cavalo, publicada em livro no ano 1928, surgia na literatura como visão gélida da aventura da mulher branca entre homens de pele escura e expostos ao seu olhar num cúmulo de exuberância fÃsica. A mulher branca iria desta vez enfrentá-los com uma absoluta indiferença pelo seu atractivo sexual; e, pelo seu lado, sentir-se-ia apenas vista como objecto assexuado entre homens faustosamente dotados para as relações fÃsicas. A mulher que fugiu a cavalo vê-se entre Ãndios que a elegem como sua mensageira solar. Fugida do tédio do casamento para uma aventura que começara envolta «num tolo romantismo, ainda mais irreal do que o existente nas raparigas », acedia à hiperlucidez conferida pelas drogas e, com ela, à complacência perante o seu destino de vÃtima oferecida a umsupremo poder. Porque aqueles Ãndios viviamumamá época da sua história, roubados pelo homembranco no que tinha sido um seu ancestral poder. Dizia-lhes uma crença que a grande força geradora seria obtida com o encontro astronómico do sol e da lua; e que em esplendorosos tempos esta impossÃvel conjunção celeste era indirectamente obtida descendo o sol até ao homemÃndio, descendo a lua até à mulher Ãndia, para no seu encontro fÃsico e terrestre se multiplicar o Poder. A aparição do homem branco tinha feito o sol e a lua zangarem-se, tornando os encontros fÃsicos do homem Ãndio e da mulher Ãndia estéreis quanto a essa força vital.Mas bastaria o Ãndiomostrar-se capaz de dominar o homem branco, oferecendo a sua mulher ao Sol, para o astro supremo voltar a penetrar no homem Ãndio, a lua voltar a entrar na mulher Ãndia, e a sua conjugação restituir-lhes a força perdida. Para cenário desta oferenda D.H. Lawrence (Nottingham, 1885 – Vence, 1930) lembrou- se de uma gruta que visitou num dos seus passeios a cavalo nos arredores deTaos, a região dos Ãndios adoradores do sol; que o tinha impressionado pela cascata à frente da entrada, e que formava durante o Inverno uma gigantesca estalactite de gelo suspensa como um dardo sobrenatural.»AnÃbal Fernandes