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PURO E O IMPURO, O
Existencia De Papel, Uma nº 32
972-8632-45-2
Os primeiros poemas deste livro correspondem a um movimento de retracção perante o caos do mundo. Longe da «estranha ventania», metáfora desta nossa era de acelerações históricas e catástrofes, o poeta regressa à s imagens fundadoras da sua identidade. O ritmo das estações, a beleza que fere, os dilemas da idade, as raÃzes e os relâmpagos, a consciência da morte que poisa devagar no ombro («como uma suspeita»), tudo são visões fugazes de quem olha, fixamente, um «rosto de fogo». Procura-se o apaziguamento e a tranquilidade do amor que «reabre o tempo». Invocam-se memórias, a «velha ciência» da espera, paisagens. Mas o que se sobrepõe a tudo é a lucidez melancólica, a noção de que um dia tudo acaba: «Aprende-se devagar a dominar/ a tristeza.». Surgem depois, sem grande surpresa, os poemas de viagem, organizados em dois núcleos: Israel e Islândia. Os versos de inspiração judaica são os melhores e reflectem a forma como Viegas experimentou, na Terra Prometida, os mistérios da fé. A poesia em Jerusalém, diz-nos, só pode ser «matéria descritiva, empréstimo, lembrança, explicação». E ele descreve, de facto, o que vê: uma mulher que «ajeita a metralhadora entre os sacos das compras» ; as vozes dos profetas junto ao Muro, atravessando os séculos; uma árvore plantada no deserto; ou o intangÃvel «Deus dos perplexos», sem rosto e sem voz.