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RAIZES DO CEU, AS
978-989-676-061-8
«Houve quem escrevesse, após a publicação deste livro há vinte e quatro anos, que ele era o primeiro romance "ecológico", o primeiro apelo à salvação da nossa biosfera ameaçada. Mas eu próprio não me dava conta, nessa época, da extensão das destruições que se perpetravam nem da amplitude desse perigo.
Em 1956, estive sentado à mesa de um grande jornalista, Pierre Lazareff. Alguém pronunciou a palavra "ecologia". Das vinte personalidades presentes, só quatro conheciam o sentido dessa palavra…
[…]
Situei o meu relato no que ainda se chamava então, em 1956, a Ãfrica Equatorial Francesa, porque aà tinha vivido e porque também não tinha esquecido que esse território fora o primeiro a responder outrora a um apelo célebre contra a abdicação e o desespero, e a recusa do meu herói de se submeter à enfermidade de ser homem e à dura lei a que estamos sujeitos juntava-se assim no meu espÃrito a outras horas lendárias…
[…]
Quanto ao problema mais geral, universal, da proteção da natureza, esse não tem, bem entendido, nenhum carácter especificamente africano: é em vão que gritamos como desalmados. Leva a pensar que os direitos humanos são eles também sobreviventes incómodos de uma época geológica passada: a do humanismo. Os elefantes do meu romance não são pois alegóricos de todo: são de carne e osso, exatamente como os direitos do homem…»
Romain Gary, Prefácio à edição de 1980
Extraordinário e premonitório livro este, o do primeiro Prémio Goncourt de Romain Gary. Só a arte, neste caso a literatura, pode ver assim longe, longe, a perder de vista. Há uma fronteira, entre o humano e o inumano, que não pode ser ultrapassada, diz Gary. E, contra a escravidão imposta em nome de religiões, nacionalismos ou interesses económicos, ergue um livro. Em nome do homem.