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URGENCIA DE CONTAR, A
972-21-1450-6
[...] os textos aqui em foco expõem os condicionamentos bem como as consequências mais vastas da limitação das mulheres à identidade de esposas e mães ou, no pólo oposto, «mulheres perdidas». Escrever a partir da plataforma da diferença feminina não terá, por conseguinte, nada de ingénuo nem, muito menos, de vitimizante ou «natural»: trata-se, efectivamente, de utilizar um dispositivo discursivo em aparência inócuo («literatura feminina») para confrontar a exclusão das mulheres do espaço da cidadania, do fórum público. A necessidade, bem como a viabilidade, de serem ouvidas, e ouvidas como mulheres, sobre as estruturas sociais, económicas, legais, culturais e psicológicas que colonizam diversamente mulheres e homens de várias procedências de classe, meio geocultural e, em alguns casos, raça, explica por que «é que grande parte das escritoras que emergem entre finais dos anos trinta e finais dos anos quarenta envereda pelo género do conto e da novela. [...]
Devido à sua própria multiplicidade (em contraste com um número mais limitado de intrigas romanescas), o conto torna-se, assim, veÃculo privilegiado de análise e, idealmente, combate dos vários mecanismos de poder que interactuam para disciplinar as mulheres, bem como os demais sujeitos da diferença, no âmbito da famÃlia-nação salazarista.
(A. P. F., in texto de apresentação da presente obra)