VIDA DUPLA

Um homem e uma mulher do nosso tempo, em Paris.
Ambos casados, mas não um com o outro.
Desde há dois anos que vivem uma paixão tempestuosa, na mais absoluta das clandestinidades.
Um dia, ela não aparece num dos seus encontros habituais.
E deixa também de responder aos telefonemas.
Claro que o homem não a pode ir procurar, sob pena de que o segredo se quebre.
Imagina todos os cenários possíveis e deixa-se pouco a pouco invadir pela paranóia, ao mesmo tempo que se esforça por levar uma vida normal.
Uma segunda existência, junto daquela que sabe sobre ele coisas que mais ninguém conhece, mas não chega a aperceber-se de tudo aquilo que todos os outros vêem.
Onde pára porém a mentira e começa a traição.
No dia em que pela primeira vez toma consciência de que, ao procurar a desaparecida, a polícia acabará por revelar a ligação que com ela mantinha, começa a percorrer todos os lugares por onde passaram, para apagar os seus vestígios.
É então que descobre que a vida privada é a primeira vítima das sociedades vigiadas.
Tudo aquilo que pensava ser secreto fora filmado, escutado, gravado e arquivado, natural e legalmente.
O mais pequeno gesto num parque de estacionamento, um beijo roubado num ascensor, algumas palavras furtivas ao telefone, ou algumas expressões ternas no correio electrónico...
Tudo, sem excepção, tudo aquilo que tinham querido preservar, fora registado.
E o cerco aperta-se.
Mas o que é que se sabe de tudo aquilo que os outros sabem de nós?